Ao invés de criticar TSE ou STF, presidente ‘fulaniza’ briga e centra fogo no ministro.
Uma das estratégias de marketing do neopopulismo é promover o rodízio dos supostos “inimigos” da pátria, do povo ou até, pasme, da democracia. O eleito da vez pode ser Leonardo DiCaprio, os políticos tradicionais, a esquerda, o Supremo Tribunal Federal, a vacina, a Greta Thunberg, a imprensa, as Universidades, o calça apertada. A lista é longa.
A bola da vez e alvo preferencial das invectivas do presidente Jair Bolsonaro é o voto eletrônico e a consequente reivindicação do voto impresso, chamado de público, auditável. É incrível, mas é verdade: ele se insurge contra o sistema utilizado quando da sua eleição. É mais ou menos como o time que vence por 1 x 0 reivindicar o VAR para confirmar o gol que anotou…
Mas há alguma lógica por trás disso. Se o presidente perder a eleição no ano que vem, ele terá como que legitimado sua suspeição. Depois, Brasil atravessa tempos sombrios, com pandemia, desemprego, perspectiva de racionamento de energia e uma CPI na qual o governo não está exatamente confortável. Nesse sentido, trazer um assunto secundário para o centro do debate nacional é uma jogada bem interessante. Bolsonaro deu uma guinada no discurso. Ao invés de criticar o Tribunal Superior Eleitoral ou o Supremo Tribunal Federal, paradas indigestas, “fulanizou” a briga: centrou fogo na figura do ministro Luís Roberto Barroso. Agora, é o ministro, pessoa física, quem não quer “transparência” e que a urna reflita a vontade do eleitor. Não se preocupe, semana que vem, inimigo novo.